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terça-feira, 28 de junho de 2016

Em defesa das árvores


À luz do que tem surgido na comunicação social sobre a Plataforma em Defesa das Árvores, achamos que convém esclarecer cabalmente os seguintes pontos, bem como realçar outros que nos parecem essenciais para a gestão correcta do património arbóreo da cidade de Lisboa:

A Plataforma como a sua designação indica, congrega cidadãos a título individual, associações e movimentos, não é uma associação de activistas.

O que nos move é o amor e o respeito pelas árvores assim como a sua salvaguarda defesa e valorização. E neste sentido assume especial importância a dignificação do riquíssimo património arbóreo de Lisboa.

A nossa acção centra-se sobretudo no acompanhamento rigoroso do executivo camarário, bem como no impacto da descentralização de competências em matéria de manutenção e tratamento dos espaços verdes da cidade.

Queremos constituirmo-nos como uma força de diálogo e nunca como um trampolim para eventuais bloqueios.

O que defendemos, é assim, bem mais vasto do que aquilo que pode ser visto como um bem intencionado activismo ditado mais por circunstâncias do momento, do que por uma lógica de continuidade. O que desejamos inscreve se numa gestão sustentável das árvores de Lisboa o que, por seu turno, implica uma constante atenção e acompanhamento do que é feito no terreno.

É, por outro lado, nossa firme convicção de que só uma relação transparente entre as instâncias chamadas a gerir a cidade e as forças que nela residem, pode constituir a base para que se crie um ambiente de plena confiança recíproca, pautada pelo quadro normativo em vigor.

Assim, parece-nos estranho: 

Que a Câmara Municipal de Lisboa tenha até agora evitado dar informação sobre projectos, abates, operações de poda, relatórios fitosanitários e linhas futuras de acção, refugiando-se quase sempre em números de novos plantios e raramente na manutenção dos conjuntos ou exemplares existentes.

Que no que diz respeito ao projecto do Eixo Central haja uma diferença grave entre o que está no papel e aquilo que acontece no terreno.

Que até à data, e não obstante os vários pedidos dirigidos à CML para cabal esclarecimento dos abates ocorridos na Av. Fontes Pereira de Melo, a autarquia nada nos tenha dito, remetendo explicações para a arena pública da comunicação social numa lamentável e grosseira tentativa de colocar à margem a Plataforma.

Que todos os pedidos de classificação municipal feitos pela Plataforma tenham até à data sido ignorados e que o futuro Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa esteja, inexplicavelmente, bloqueado na AML numa guerra de protagonismos vários tão falha de sentido como prejudicial para o interesse geral da cidade de Lisboa. Afinal, objectivo último de quem é eleito e de quem é chamado a gerir a coisa pública.

Por fim, reiteramos a nossa total disponibilidade para colaborar com a CML e com as Juntas de Freguesia na real e eficaz gestão do arvoredo da cidade de Lisboa. Não abriremos, contudo, mão da nossa voz crítica cada vez que em nome de interesses contestáveis o património que é de todos seja posto em causa.

Porque defender as árvores é também defender as pessoas.

domingo, 19 de junho de 2016

Porque não há diálogo, até quando?

(O choupo negro foi abatido durante a noite e as razões para este abate nunca foram apresentadas)


Carta aberta ao Presidente e aos Vereadores da CML

Lágrimas vagarosas e espessas.

Não há uma árvore igual a outra árvore, alguém disse num tempo longínquo. O choupo negro, (Populus nigra), que ontem foi abatido, permite-nos interrogar sobre o significado e o valor que damos à vida, à hierarquia de importância da sua diversidade e a dignidade e respeito que nos devem merecer todos os seres vivos, nomeadamente as árvores de cuja existência dependemos.

Um choupo negro tem uma idade média de 100 anos; o da Avenida Fontes Pereira de Melo, teria cerca de 50 anos. Assistiu à revolta estudantil contra o Estado Novo, às visitas do Papa Paulo VI e João Paulo II a Portugal, às grandes cheias da região de Lisboa que causaram cerca de 500 mortos e deixaram milhares de pessoas sem abrigo, à Revolução dos Cravos que depôs a ditadura e deu Início à 3.ª República. Para não falar dos milhares de pensamentos, afectos e vozes que, na a sua presença e beleza nos ajudou a viver em momentos felizes ou difíceis.

Se houvesse por parte de quem nos governa, mais conhecimento e sensibilidade humanas, nunca teria sido abatido.

Se houvesse por parte de quem nos governa, mais Pólis, os cidadãos seriam ouvidos de outra forma, dialogando, pensando em conjunto soluções alternativas, num exercício de verdadeira e legítima cidadania, com base nos pressupostos acima mencionados.

Foi com base na relação ética/estética, que, por exemplo, os arquitectos paisagistas que desenharam os Jardins da Fundação Gulbenkian intervieram naquela paisagem: conceberam-na à volta de um monumental eucalipto que foi preservado, porque ele era o mais antigo ser representante de um lugar e de uma história que deveria ser contada, permitindo assim que as diferentes camadas de vida, tempo, história e beleza pudessem coexistir transmitindo-nos pelo seu saber, o entendendimento do significado da vida, a sua beleza e princípios éticos, ou seja, a sua verticalidade.

Se houvesse por parte de quem nos governa mais cultura humanística, as imagens 3D, não-lugares, que se transpõem do computador para a paisagem urbana, desprovidas de passado, presente e também de futuro, numa estética vazia, sem densidade e valores humanos - uma estética horizontal, sem ética nem valores, este choupo negro nunca teria de ser sacrificado. O projecto paisagístico, teria contemplado estes seres que nos humanizam e dado aos cidadãos o seu verdadeiro estatuto, ou seja que a cidade não deve ser pensada para os consumidores, mas para os cidadãos. E com eles deve ser construída. Teria sido possível uma experiência de democracia com os valores da República, que com a sua implementação, criou o Dia Nacional da Árvore.

Lágrimas vagarosas e espessas, pela morte deste choupo negro.

Até quando?

Manuela Correia

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Aguardamos esclarecimentos



Exmo. Senhor Presidente da CML Fernando Medina
Exma. Senhora Presidente da AML Helena Roseta
Exmo. Sr. Vereador José Sá Fernandes
Exmo. Sr. Vereador Manuel Salgado


Dados os recentes e inesperados abates de árvores  na Avenida Fontes Pereira de Melo no âmbito do projecto de requalificação do Eixo-Central (projecto que esta Plataforma aplaudiu), notamos que:

1. O Projecto previa manter as árvores existentes e a versão do mesmo apresentada à opinião pública também não mencionava quaisquer abates.

2.  Os fotogramas não deixam antever nenhum abate nem substituição drástica que normalmente acompanha a jusante essas operações. Inclusive nas ilustrações aparecem as árvores existentes; 

3.  Eventuais alterações em curso de empreitada carecem de legitimidade uma vez que podem afastar-se dos pressupostos que estiveram na base da aprovação do projecto.  Na nossa opinião estes abates inscrevem-se nesse perigoso distanciamento dos valores do projecto original: manutenção do arvoredo adulto existente e multiplicação das zonas de árvores com plantio novo;

4. A diversidade específica em arvoredo de alinhamento deve ser encorajada e promovida.

5. Ao que tudo indica a CML procedeu e vai proceder a abates à revelia do projecto, cuja necessidade e legitimidade são questionáveis;

6. Este procedimento foi dissimulado e omitidas quaisquer razões que o justificassem, a despeito dos compromissos públicos e do que é consagrado pelo despacho 60/ P/2012 e por um Regulamento que se encontra actualmente retido na Assembleia Municipal, à espera de aprovação há demasiado tempo.

 Assim sendo, somos obrigados a pedir os seguintes esclarecimentos:

1. Quais as razões que determinaram os recentes abates de árvores adultas na Av. Fontes Pereira de Mello? Parece-nos questionável que para que se alcance uma assinalável e meritória melhoria do espaço público, se tenha que destruir o que já lá estava. Até porque os benefícios das árvores adultas não são comparáveis aos das jovens árvores, que levarão muitos anos a proporcionar os mesmos benefícios.

2. Porque estão assinalados para abate os magníficos choupos-negros? Estes choupos fazem parte do património da cidade e pertencem a todos os lisboetas. Se o problema é que as suas raízes levantam ligeiramente o passeio, haverá seguramente soluções técnicas para resolver esse problema que não passam pelo abate puro e simples.

3. Qual o destino dos restantes exemplares existentes na Av. Fontes Pereira de Melo, nas placas ajardinadas em frente ao hotel Sheraton e ao longo da Av. da República? Estão previstos mais abates de árvores para as zonas a intervencionar?

4. Em relação às tipuanas da Pç. Duque de Saldanha, estão estas salvaguardadas de abates ou de transplantes? Lembramos que em nome da Plataforma foi oportunamente apresentado um pedido de classificação desse conjunto arbóreo.

5. Finalmente, esta situação leva-nos também a questionar qual a metodologia que irá ser seguida pela CML para todas as zonas arborizadas da 2ª Circular (projecto que esta Plataforma também aplaudiu)?

A Plataforma pede a V. Exas. que sejam tomadas medidas para a preservação destas árvores, lembrando que a lei vigente só permite o seu abate quando estas estão doentes e representem perigo para pessoas ou bens  e nunca no âmbito de uma empreitada de requalificação e à revelia do próprio projecto apresentado aos cidadãos.

Aguardando a gentileza de uma resposta célere.

sábado, 11 de junho de 2016

Menos árvores, mentiras e ilegalidades no eixo central de Lisboa

Prometidos foram "passeios largos, esplanadas, relvados e árvores", uma cidade MAIS verde, mais pessoas menos carros..... Ninguém imaginaria que para implementar um plano desta natureza no eixo central de Lisboa fosse necessário abater todas as árvores existentes, ninguém!
A verdade é que as obras começaram há dias na Av. Fontes Pereira de Melo e logo ali se abateram prepotentemente, sem avisos ou respeito pelo projecto e pelas próprias leis em vigor na CML, dezenas de árvores jovens e perfeitamente saudáveis.

(no google ainda com as árvores)


 Hoje na Av. Fontes Pereira de Melo

Restam apenas nesta avenida (troço em obras do Marquês de Pombal a Picoas) quatro árvores que por sinal são maravilhosas e insubstituíveis. São quatro choupos negros que fazem parte da história da cidade de Lisboa, do eixo central e das nossas mais remotas memórias e afectos, são árvores que pertencem à cidade e aos lisboetas e não a quem - de passagem - assina este ou aquele projecto de "requalificação"e age prepotente e dissimuladamente em sua defesa. As árvores não são peças de mobiliário, as poucas leis que existem para a sua protecção têm de ser escrupulosamente cumpridas, e, neste caso, estas árvores deviam ter sido contempladas no projecto de requalificação em curso. Se não foram - e tudo indica que não - ainda vão a tempo de o fazer. 

( um dos choupos condenados)
(aviso de abate sem informação necessária e exigida por lei)

Não aceitamos de forma alguma o anunciado abate destas árvores e tudo faremos para o evitar. Não tivemos acesso a relatórios fitossanitários de espécie alguma, não existe informação acerca da data prevista para o abate dos quatro magníficos  choupos, neste momento há razões para temer o abate de todas as árvores existentes no eixo central, exigimos esclarecimentos urgentemente!